Desde
a origem das sociedades modernas que o homem busca a inserção em
grupos que mais se identifiquem com a sua forma de pensar e agir. E
isso pode ser visto como algo saudável, posto que os iguais buscam
os afins, bem como os “desiguais” costumam buscar os igualmente
“desiguais”. Até aí nada demais, apenas uma constatação mais
do que óbvia. No entanto, do início do século xx até o final do
mesmo, percebemos no seio das sociedades um movimento de segregação
muito forte, em que as desigualdades passaram a ser motivo de
perseguição, sejam elas de natureza ideológica, religiosa ou até
de gênero.
Fossem judeus, negros, homossexuais, todos eram perseguidos e vitimados por
uma suposta diferença. A intolerância era uma palavra de ordem nos
grupos que os reprimiam. Ainda assim, salvo no caso dos judeus, que
foram vitimados por um regime estatal, tudo ocorria de forma velada,
na calada da noite, nos becos e vielas.
Hoje,
a tecnologia veio a proporcionar entre outras coisas uma maior
conexão entre as pessoas, empresas e grupos. E nessa vertente,
aqueles grupos que possuem a mesma ideologia encontraram terreno
fértil para por em prática uma nova forma de proselitismo, em que
ao mesmo tempo você ataca e capta pessoas com pensamentos afins. Não
precisamos buscar muito, basta abrirmos as redes sociais para vermos
claramente manifestadas declarações de ódio e incitação a
violência.
A
virada do milênio que deveria ser encarada como um momento de
reflexão para que os erros ocorridos no passado não viessem a
ocorrer novamente no futuro, parece que fez renascer exatamente a
aversão às diferenças e o repúdio notório a tudo aquilo que se
manifesta de forma contrária ou diferente a um chamado
“politicamente correto”. Até porque todos os argumentos que se
baseiam em termos e ideias subjetivas já são, pelo menos na maioria
das vezes, por natureza, inconsistentes e frágeis. Afirmar que algo
é politicamente correto já é algo que deve despertar preocupação,
pois geralmente esse politicamente correto é aos olhos de um grupo,
que certamente possuem interesses envolvidos.
A
sociedade brasileira passa por um momento delicado, pois já
vivenciou vários tipos de dessabores e decepções, mas tinha como
marca e grande arma a ponderação e o não radicalismo. Sempre fomos
lembrados como sendo uma sociedade pacífica. Entretanto, tal
atmosfera tem dado lugar a uma total sensação de medo e
intolerância. E pior, tendo como base argumentos dos mais
desprezíveis. Chegamos ao ponto de apenas por estar usando uma
camisa de um time diferente daquele “politicamente correto” já
ser motivo para espancamentos que culminam em mortes e mutilações.
Tudo justificado pela não concordância com um mera escolha de um
time a seguir. Pessoas sendo espancadas e humilhadas em público, sob
um suposto argumento que seriam criminosos, e o pior, aplaudidos com
comentários e curtidas das mais variadas formas. E não estou aqui a
defender criminosos e nem a questionar a liberdade de expressão, até
porque caso eu o fizesse estaria sendo incoerente justamente com
aquilo aqui repudio, que é a intolerância e na sua forma mais
ampla.
O
fato é que acredito que seja hora de uma reflexão, pensar mais
antes de agir e contra quem agir.
A
incoerência é tamanha que se pegam alguém roubando uma galinha ou
um celular, são suficientes para bater e espancar até a morte.
Agora quando aquele que desviou milhões é condenado, contra esses
não se verifica nenhum tipo de mesma retaliação. E acho mesmo que
não deve ocorrer, afinal a justiça já fez a parte dela. No
entanto, um desvio de milhões mata quantas crianças em leitos de
hospitais? Deixa com fome quantas crianças nas creches? Condenam a
míngua quantos idosos em abrigos? E ainda assim, gastarmos força e
disposição questionando opinião de time de futebol, opção
sexual, cultos religiosos, no mínimo é uma clara demostração de
sociedade manipulada. Como sabiamente o prof. Eugenio Zaffaroni já
sabiamente elencou, um grande problema comum das sociedades nos
países latino-americanos é baixa qualidade das grades televisivas e
o alto grau de manipulação das mesmas. Junta-se todos esses
ingredientes com o fato de sermos uma sociedade das que menos livros
lê, possuindo as piores taxas de desempenhos escolares e com
baixíssimo estímulo à Educação, não se poderia esperar algo
mesmo muito diferente.
Não
nos esqueçamos jamais que ideologias precisam ser despertadas e não
impostas.
Tudo verdade. Porém, incluo também que o indivíduo quando não se encaixa dentro do grupo, seja ele qual for, o mesmo é expulso. Algumas vezes de forma visível, sentida na pele. Outras vezes, eles não dizem não para aquele indivíduo, mas agem de forma tão indiferente que o próprio indivíduo se distancia. E assim a rede social é formada.
ResponderExcluirConcordo com você. Isso realmente é fato. E por vezes a falta de diálogo torna ainda mais difícil essa situação.
ExcluirAlexandre, em algumas situações como nos casos das torcidas, que você bem colocou, não há proselitismo algum. Os torcedores (se é que posso chamá-los assim) mais extremos não perdem tempo algum tentando convencer outras pessoas a torcerem pelo seu time. Ao contrário, partem para a barbárie gratuita. É triste.
ResponderExcluirSim, eu te entendo. No entanto quando me referi aos torcedores, quis dizer que há todo um "culto", uma ideologia que esses "torcedores" entendem ser a única aceitável. E por os demais não fazerem parte deste raciocínio, eles entendem que isso já dá direito a que os demais venham a sofrer as consequências de suas escolhas. Realmente um absurdo!
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