Para analistas, execuções não reduzem criminalidade
Nos EUA, ampla maioria de estudiosos acredita que aplicação da pena de morte não reduz violência nas ruas.
A aplicação da pena de morte reduz os níveis de violência nas ruas?
Nos Estados Unidos
– um dos cinco países que mais realizam execuções, segundo a Anistia
Internacional -, a ampla maioria dos criminologistas avalia que não. (Os
demais países que encabeçam o ranking de execuções são China, Irã,
Iraque e Arábia Saudita.)
Um estudo publicado pelo Jornal de Lei Criminal e Criminologia da
Universidade de Northwestern, em Chicago, mapeou as opiniões de 67
destacados pesquisadores americanos que se especializaram nesse tema.
Para 88,2% deles, executar detentos não tem qualquer impacto nos níveis de criminalidade.
"As pessoas que cometem os crimes mais violentos, que em geral são
crimes de paixão ou acertos entre gangues, claramente não se preocupam
com a pena de morte ao cometê-los", diz à BBC Brasil Joe Domanick,
diretor do Centro de Mídia, Crime e Justiça da Universidade da Cidade de
Nova York.
Para ele, as execuções deveriam ser substituídas pela pena de prisão
perpétua sem possibilidade de soltura, medida menos drástica e
igualmente capaz de tirar os criminosos mais perigosos das ruas.
Há, porém, uma corrente de pesquisadores nos Estados Unidos – formada
principalmente por economistas – para quem a aplicação da pena de morte
se traduz, sim, em menor criminalidade.
Em trabalhos publicados nas últimas décadas, eles comparam o número de
execuções em determinadas regiões americanas com seu histórico de
homicídios.
Um desses estudos, produzido pelos economistas da Universidade de
Houston Dale Cloninger e Roberto Marchesini, concluiu que cada execução
no Texas preveniu entre 11 a 18 homicídios no Estado no período
analisado.
Autonomia estadual
Com dez execuções em 2014, o Texas foi, ao lado do Missouri, o Estado americano que mais aplicou a pena no ano passado. Somados à Flórida, com oito execuções, os três Estados foram responsáveis por 80% de todas as aplicações da pena no país no ano passado.
Com dez execuções em 2014, o Texas foi, ao lado do Missouri, o Estado americano que mais aplicou a pena no ano passado. Somados à Flórida, com oito execuções, os três Estados foram responsáveis por 80% de todas as aplicações da pena no país no ano passado.
Isso se deve, em grande medida, à autonomia que os Estados americanos
têm para legislar sobre como punir crimes cometidos em sua jurisdição.
Dos 50 Estados americanos, 32 preveem a pena de morte em suas
legislações. Em geral, a medida se aplica apenas a condenados por
homicídios ou estupro.
A Flórida é o único Estado americano onde o tráfico de drogas também
pode ser punido com execução – a depender da quantidade e do tipo da
droga negociada e de possíveis agravantes, como vendê-la para menores de
idade.
No entanto, nem todos os Estados americanos onde a pena de morte é permitida costumam aplicar a punição.
Por outro lado, há casos em que detentos podem ser executados mesmo em
Estados onde a legislação local não prevê a medida – desde que sejam
julgados e condenados por cortes federais.
O julgamento de Dzhokhar Tsarnaev – jovem acusado de promover o ataque
na maratona de Boston, em 2013 -, por exemplo, se dará numa corte
federal, assim como praticamente todos os casos que envolvem denúncias
de terrorismo no país.
E embora o Estado de Massachusetts, onde fica Boston, tenha abolido a
pena de morte de suas cortes estaduais em 1984, cortes federais podem
aplicar a punição em qualquer ponto do país para certos tipos de crime,
entre os quais terrorismo.
Desde 1976, o governo americano executou três pessoas.
Execuções em baixa
Estatísticas mostram que os Estados Unidos têm diminuído a aplicação da pena de morte e assistido a um declínio do apoio popular à medida.
Estatísticas mostram que os Estados Unidos têm diminuído a aplicação da pena de morte e assistido a um declínio do apoio popular à medida.
Segundo o Centro de Informações da Pena de Morte, instituto que
monitora a aplicação da punição nos Estados Unidos, 2014 teve o menor
número de execuções dos últimos 20 anos: 35, 10% a menos que em 2013.
O número de condenações à pena de morte no país também está em
declínio. Segundo o instituto, 74 pessoas receberam essa sentença em
2014, o menor índice dos últimos 40 anos.
O declínio na aplicação do método tem sido acompanhado pelo crescimento da rejeição à pena de morte entre os americanos.
Segundo um levantamento do Pew Research Center, um dos mais
prestigiados centros de pesquisa do país, o número de americanos que
reprovam a pena de morte para condenados por homicídio passou de 31% em
2011 para 37%, em 2013.
No mesmo período, o total de americanos que apóiam o método caiu de 62% para 55%.
No Brasil, a rejeição à pena de morte é ainda maior. Segundo uma
pesquisa do Datafolha de 2013, 50% dos brasileiros acham que não cabe à
Justiça determinar a morte de uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido
um crime grave.
Outros 46% se disseram favoráveis à punição.
No Brasil, porém, uma cláusula pétrea da Constituição proíbe a pena de
morte, e qualquer mudança no texto dependeria da convocação de uma
Assembleia Constituinte que elaborasse uma nova Carta, algo tido como
bastante improvável por especialistas.
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